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Amarante
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Maria Francisca Vasconcelos: a jurista amarantina que deu voz a Portugal em Washington

Maria Francisca Vasconcelos foi a única portuguesa entre os 30 jovens líderes selecionados para a Transatlantic Youth Summit 2025.

Redação

A jurista Maria Francisca Vasconcelos, natural de Amarante e com apenas 24 anos, foi a única representante portuguesa na Transatlantic Youth Summit 2025, que decorreu entre os dias 1 e 4 de junho, em Washington, D.C. O encontro juntou 30 jovens líderes da União Europeia e dos Estados Unidos para discutir temas-chave como política externa, defesa, tecnologia, sustentabilidade e economia, num contexto geopolítico cada vez mais desafiante.

Para Maria Francisca, que integra atualmente o gabinete do Chefe da Delegação Portuguesa do PSD no Parlamento Europeu e é vice-presidente da JSD Distrital do Porto, a experiência foi marcante e carregada de simbolismo. “Foi um grande sentimento de orgulho, mas também muita responsabilidade acrescida”, sublinhou. “Havia mais do que um delegado dos Países Baixos, mais italianos, mais espanhóis… e eu senti essa responsabilidade de representar bem o meu país”.

A jovem amarantina destaca também o valor de levar a voz do interior de Portugal a espaços internacionais: “Sou uma jovem do interior e é uma zona onde muitas vezes não nos conseguimos igualar em oportunidades com Lisboa ou o Porto. Fiquei muito feliz por ter esta oportunidade”.

Um processo de seleção exigente

A cimeira é organizada pelo European Youth Parliament (EYP), uma das maiores plataformas de juventude na Europa. Maria Francisca ficou a par da iniciativa através de um colega envolvido na organização. A candidatura implicou um processo rigoroso: “Foi preciso enviar o certificado de habilitações, o currículo e uma carta de motivação a responder a perguntas específicas sobre o cenário global atual.”

Ao fim de um mês de avaliação, foram escolhidos apenas 30 jovens. “A candidatura foi feita através do site oficial e foi também divulgada nas redes sociais, que nesse sentido me ajudaram um bocadinho", confessa. 


Debates intensos e temas fraturantes

Durante os quatro dias da cimeira, Maria Francisca participou ativamente em grupos de trabalho dedicados à cibersegurança, inovação legislativa e transparência institucional. Mas foi nos debates mais políticos que sentiu o peso e a riqueza da diversidade cultural e ideológica: “A liberdade de expressão e a segurança foram dos temas que mais nos dividiram. Tínhamos quase todos backgrounds muito diferentes, desde empresários a académicos, e isso tornou tudo muito mais interessante”.

A polarização geracional e política esteve presente, especialmente quando se abordaram os desafios colocados pela ascensão da extrema-direita. “Havia jovens que defendiam censurar algumas notícias sobre partidos extremistas para proteger os eleitores mais novos. Mas eu defendi que o melhor é debater essas ideias abertamente e confrontá-las com alternativas mais democráticas e construtivas”.


Redes sociais e desinformação: o papel do TikTok nas democracias

Um dos momentos mais marcantes para a jovem portuguesa foi o painel com o ex-primeiro-ministro da Roménia, que alertou para os riscos do TikTok nas eleições democráticas. Maria Francisca trouxe esse debate também para o seu contexto de trabalho no Parlamento Europeu: “O TikTok está a ser investigado por manipulação de algoritmos, promoção de conteúdo falso e favorecimento de candidatos extremistas. Durante as eleições na Roménia, circularam informações falsas, como a possibilidade de votar de casa ou pelas redes sociais — com enorme impacto”.

Sobre Portugal, alertou para os efeitos semelhantes: “As redes sociais estão muito associadas ao medo, ao discurso de ódio contra migrantes e minorias. Isto alimenta o populismo. Mas não podemos proibir as redes, temos de perceber como regular sem limitar liberdades.

A jurista defendeu o papel da juventude moderada neste combate: “Temos de passar uma visão construtiva para a Europa e para a relação transatlântica. É preciso legislar com rigor, mas também com criatividade, e ouvir os jovens nesta discussão.”


“Cada um pode ser líder na sua comunidade”

Mais do que um evento político, a Transatlantic Youth Summit reforçou o potencial da juventude para liderar e transformar. “Isto contraria completamente a ideia de que os jovens estão desligados. Encontrei pessoas com currículos impressionantes e uma enorme vontade de fazer a diferença”, afirmou Maria Francisca.

A cimeira deixou-lhe a vontade de replicar experiências semelhantes: “Gostava muito de voltar a participar. Os jovens organizam-se hoje em torno de causas, ambiente, associativismo, igualdade, e é preciso canalizar isso também para as instituições democráticas”.

A mensagem final é clara: “Todos temos o direito de pensar sobre o que é melhor para os nossos países, para a Europa, e para o futuro das relações com os Estados Unidos, que continuam a ser um aliado histórico essencial. Não é preciso estar na política para liderar, basta querer contribuir”.