Hoje, juntamente com as três irmãs, mantém ativa a arte que cresceu com a família. Todas trabalham fora, mas ao fim do dia reúnem-se em casa do pai, onde prolongam os serões a entrelaçar vime.
Em São João de Fontoura, no concelho de Resende, a cestaria continua a resistir ao tempo graças às mãos de Maria Ramalho, de 51 anos. Aprendeu desde criança, seguindo os passos dos pais, e nunca mais parou.
Hoje, juntamente com as três irmãs, mantém ativa a arte que cresceu com a família. Todas trabalham fora, mas ao fim do dia reúnem-se em casa do pai, onde prolongam os serões a entrelaçar vime.
Apesar de a chegada dos artigos baratos da China ter afetado durante anos o negócio, Maria garante que a procura voltou a aumentar. Conta que chegam encomendas para casamentos, batizados, comunhões e até de hotéis, e acredita que seria possível viver novamente apenas da cestaria. No entanto, prefere manter a atividade como complemento, sem deixar o emprego que lhe dá estabilidade.
Entre as peças que produz, destacam-se as miniaturas ligadas à tradição portuguesa: canastras da Nazaré, cestos das vindimas, cabazes e açafates. "Agora, também começamos a fabricar peças de suporte para os guardanapos, para os tabuleiros de mesa e, ainda, para o pão. Têm tido uma grande procura", assume.
O trabalho com o vime é, para si, mais maleável e agradável do que o uso de madeira de castanho, que exige mais força.
Ainda que a cestaria esteja novamente em alta, Maria receia que a tradição possa terminar com a sua geração. Nem ela nem as irmãs têm quem continue, e reconhece que já são poucos os cesteiros na freguesia. "A fazer miniatura já somos mesmo só nós. Há outros, sim, que fazem em tamanho maior", refere.
O tempo investido varia consoante o tamanho da peça: uma miniatura pode ficar pronta em 15 minutos, enquanto um cesto maior pode demorar mais de uma hora. Apesar disso, Maria garante que os clientes não consideram os preços elevados, sobretudo quando percebem todo o processo necessário até o vime estar pronto para ser trabalhado.
"Os nossos clientes, como já são clientes há muitos anos, não se queixam, nem acham que seja caro", destaca, frisando que, "quando começamos a explicar o tempo que demora, os passos que se seguem até se conseguir fazer o cesto, as pessoas dão o justo valor". "Porque o vime não vem assim, não é? Temos que colocá-lo numa máquina primeiro, depois tem que ir a um banco, só depois é que podemos começar a trabalhar", acrescenta.
Com orgulho, admite que quer continuar até ser idosa, como o pai, que chegou aos 91 anos depois de uma vida dedicada ao ofício. Hoje, grande parte das vendas é feita diretamente em casa, a clientes fiéis que já compravam ao seu pai antes de ela nascer. Mas também há espaço para novos públicos: os mais jovens surpreendem-na com o interesse, sobretudo pelas peças modernizadas com pequenos detalhes, como ímanes decorados com cachos de uvas, cerejas ou peixinhos.
Considera que qualquer pessoa, desde que tenha gosto, consegue fazer isto ou é só quem tem assim uma queda especial? Após a questão feita, veio a resposta: "É preciso ter gosto, pois, se não tiver, é um trabalho sempre igual, que se poderia tornar cansativo e repetitivo. Mas, tendo-se gosto, qualquer pessoa consegue".
Na última edição da Agrival, Maria participou pela primeira vez a convite do município de Resende e sentiu o reconhecimento do público. “As pessoas estão a aderir”, garante, satisfeita com o entusiasmo que esta arte tradicional ainda desperta.