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Lousada
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Natália Pinheiro: “Agora que sou nadadora salvadora tenho muito mais cuidados”

O verão traz consigo dias de calor e o desejo de um mergulho refrescante, para muitos, é tempo de descanso, mas para outros é tempo de vigiar e proteger. É o caso de Natália Pinheiro, nadadora salvadora na praia fluvial de Bitetos, onde assegura a segurança dos banhistas durante a época balnear.

Redação

Natural de Lousada e estudante de Ciências do Desporto na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, Natália Pinheiro decidiu aproveitar a pausa letiva no verão para encontrar um emprego. “Como era boa a nadar, surgiu a oportunidade de tirar o curso de nadador salvador onde estava a estudar. Decidi fazer a formação e depois consegui ficar a trabalhar na praia de Bitetos”, recorda.

A sua primeira experiência decorreu na praia fluvial de Alpendorada, Várzea e Torrão, em Marco de Canaveses, de onde guarda boas memórias. Este ano, Natália voltou a Bitetos para mais uma época balnear.

Formação exigente e desafios reais

A formação para se tornar nadadora salvadora envolveu “provas físicas iniciais, tanto em terra como na água”. Só após ultrapassadas estas etapas é que os candidatos seguem para a formação específica que os prepara para atuar em contextos de salvamento. Entre aulas teóricas e práticas, Natália aprendeu “suporte básico de vida, traumatismo de ação do ar, traumatismo craniano” e adquiriu noções sobre como lidar com “crianças das escolas, pessoas com diabetes e mais pessoas com cuidados mais específicos”.

No final do curso, os formandos são avaliados através de cinco provas, tanto teóricas como práticas, cujos resultados determinam se estão aptos para exercer a função. Apesar da preparação, Natália admite: “No fundo, toda a gente que faz este curso fica com algum receio do que vem a seguir. Sentimo-nos preparados depois das formações, mas nunca vamos estar equipados para lidar com um contexto real”. Ainda assim, encarou o desafio com coragem: “A nossa primeira vez num contexto de salvamento vai ter sempre impacto, mas rapidamente caímos na realidade”.

Mudança de perspetiva e sentido de responsabilidade

Os primeiros tempos de trabalho foram desafiantes. “Estar ali um bocadinho à nora”, descreve, mas afirma ter gostado muito da experiência. Com o tempo, aprendeu a gerir as longas horas de vigia e a lidar com situações inevitáveis: “Às vezes vamos falhar, mas não podemos ficar ali a remoer o assunto”.

A profissão mudou a sua forma de ver a praia. “Agora que sou salvadora tenho muitos mais cuidados”, confessa, reconhecendo que, enquanto banhista, via o trabalho dos nadadores salvadores como “uma coisa banal e muito simples, mas na verdade é tudo menos isso”. Com o olhar atento e habituada às regras, Natália compreende agora a sua importância: “Anteriormente também não fazia ideia do porquê da necessidade de tanta coisa”.

Com a experiência, ganhou uma nova perspetiva e defende que “as nossas comunidades às vezes só precisam de ter bom senso e empatia para conseguirmos estar todos bem e em segurança”.

Cuidados e comportamentos de risco nas praias

A jovem lousadense acredita que “entre a comunidade tem que haver um bocado de bom senso. Claro que eu também gosto de ir para a praia e gosto de jogar à bola, claro que gosto de ouvir música, mas temos que perceber que a pessoa que está ao meu lado pode não gostar da mesma música”. E acrescenta: “Eu sei que no final das contas são muitas regras e claro que acabo por deixar de fazer algumas coisas que gostava, mas acho que devia haver bom senso porque o que eu posso gostar a pessoa do lado pode não gostar. Tem que haver a boa-são das pessoas e tem que se respeitar mutuamente”.

Na sua experiência, um dos erros mais comuns cometidos nas praias é o consumo de álcool e o tipo de comida que os banhistas levam. “Vejo que as pessoas tentam levar comidas pesadas e acho isso um hábito normal que deveria ser mais levado em conta”, explica.

Também os jogos de bola são motivo de atenção: “Eu compreendo as bolas, principalmente as crianças, mas são regras que temos de implementar e, independentemente de gostarem ou não, têm de respeitar”. Sobre a entrada na água, sublinha que “o mais ilegal que vejo é mesmo a parte da recepção, claro, ir entrar na água com álcool e isso acaba por ser um peso”.

Segurança, literacia e vocação

Natália defende também a importância da literacia básica em primeiros socorros: “Acho muito importante. A época balnear só existe até certa hora e poderá acontecer qualquer coisa depois disso. Ter base de suporte básico de vida é muito importante. Sou a favor de haver essa literacia para toda a gente”. 

Sobre as praias fluviais, alerta que também apresentam riscos: “Antes de ser nadadora salvadora achava que não, mas agora comecei a frequentar outros tipos de praias, principalmente não vigiadas, e reparei que sim, há uma falta de informação”. Entre os perigos, destaca “existência de remoinhos, fundões, troncos das árvores, contaminação da água”, e aconselha a preferência por praias concessionadas e vigiadas.

Questionada sobre o que a motiva a continuar nesta profissão, responde: “Gosto de ajudar as pessoas. Sempre gostei e realizo-me a fazer isso. Realmente tirei o curso por um motivo, mas acabei por gostar de trabalhar nesta profissão e sim, recomendo a outras pessoas, principalmente para quem sabe nadar, quem gosta de ajudar os outros”.