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Amarante
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Uma vida ligada ao Rancho: “Comecei no grupo na barriga da minha mãe”

Eduardo Queirós, 43 anos, é o actual presidente do Grupo de Cantares e Danças de Santa Cruz de Riba Tâmega, mas a sua ligação à colectividade começou bem antes de ocupar cargos de liderança.

Redação

“Com algumas interrupções, mas quase desde que me conheço, faço parte do grupo. Comecei no grupo na barriga da minha mãe”, afirma, com orgulho.

A tradição é de família. “A minha mãe foi convidada para cantar no grupo no início dos anos 70, quando o rancho foi reformulado após a saída de alguns elementos. Conheceu o meu pai, que fazia parte da direcção, e desde então a nossa família tem estado ligada ao grupo”, recorda. O percurso prolongou-se naturalmente: “Depois vieram os meus irmãos, primos, sobrinhos… No fundo, é uma família dentro de outra família”.

Com uma forte consciência do papel do grupo na preservação da identidade local, Eduardo aceitou em 2003 o convite para assumir a presidência da Assembleia Geral.

Mais recentemente, em 2023, assumiu a presidência da direcção. “Numa altura em que o grupo atravessava uma fase complicada, decidi formar uma equipa jovem, trabalhadora e com vontade de dar continuidade a este projecto cultural”.


Tradição, Renovação e Desafios: “Temos de manter o respeito pelas raízes”

O Grupo de Cantares e Danças de Santa Cruz de Riba Tâmega mantém-se fiel aos princípios tradicionais do folclore, mas procura adaptar-se aos tempos actuais.

“Fazemos as actividades básicas de qualquer grupo folclórico: festivais, representações culturais, e recriações como o esfolhar do milho ou outras festas tradicionais”, explica Eduardo Queirós.

Nos últimos anos, o grupo tem procurado diversificar a sua acção e abrir-se à comunidade. “Temos feito parcerias com escolas e outras entidades, trabalhado com professores e encarregados de educação, para mostrar a importância das nossas tradições e tentar cativar os mais novos. Queremos que haja uma renovação geracional, e isso exige novas dinâmicas”, defende.

Apesar de contar actualmente com cerca de 50 elementos, e de ter conseguido baixar a média de idades do grupo para os 44 anos, há dificuldades a enfrentar, nomeadamente na área instrumental.

“Temos muita gente, mas faltam-nos tocadores. Os grupos de música popular portuguesa oferecem cachets que nós, enquanto associação voluntária, não conseguimos acompanhar”, lamenta.

Para combater este problema, o grupo está a trabalhar num projecto educativo: “Estamos a desenvolver uma escola de música tradicional. Queremos ensinar jovens a tocar os nossos instrumentos típicos, para garantir que o grupo não perde a sua identidade”.


O Futuro das Tradições: “É preciso ter o coração aberto”

Para Eduardo Queirós, fazer parte de um grupo como o de Santa Cruz de Riba Tâmega é mais do que um passatempo.

“É um orgulho manter este legado e sentir que estamos a contribuir para a identidade da nossa terra. O ambiente no grupo é muito bom — é uma segunda família. Há divergências, como em qualquer grupo, mas reina o companheirismo e o respeito”.

Questionado sobre o que motiva os novos elementos a juntarem-se ao grupo, Eduardo partilha uma reflexão: “Num projecto recente, perguntei aos jovens porque queriam entrar. A maioria disse que procurava um lugar onde toda a gente é aceite. Depois de entrarem, percebem a importância de manter as tradições”.

Apesar do optimismo, Eduardo reconhece que o futuro do folclore está longe de estar garantido. “Se não conseguirmos renovar, se não encontrarmos novas formas de financiamento e se não conseguirmos chegar às novas gerações, estas associações podem acabar”, alerta.

Ainda assim, acredita que há esperança, desde que exista entrega e espírito de missão: “Para entrar num grupo como o nosso, basta curiosidade e espírito de solidariedade. Aqui ninguém recebe dinheiro, todos dão o seu tempo. É preciso ter o coração aberto para trabalhar pelos outros e pelo bem comum. E isso faz toda a diferença”.