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Sociedade
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Papa Francisco morreu aos 88 anos: o primeiro Papa do hemisfério sul deixa legado de reformas

Papa Francisco morreu esta manhã, aos 88 anos, no Vaticano. O anúncio foi feito pelo cardeal Kevin Farrell, que recordou a vida dedicada ao serviço da Igreja.

Redação

Papa Francisco morre aos 88 anos no Vaticano

O Vaticano confirmou esta segunda-feira, 21 de abril, a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, após um agravamento do seu estado de saúde. O anúncio oficial foi feito pelo cardeal Kevin Farrell, às 07h35 (06h35 em Lisboa), destacando o compromisso vitalício do pontífice com a Igreja e o Evangelho: “Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”.

O Papa Francisco encontrava-se fragilizado após recentes internamentos, nomeadamente devido a uma pneumonia bilateral.

O “jesuíta do fim do mundo” que quis reformar a Igreja

Nascido Jorge Mario Bergoglio, a 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina, Francisco entrou para a história ao tornar-se, em 2013, o primeiro Papa jesuíta, o primeiro não europeu em mais de 1.200 anos e o primeiro oriundo do hemisfério sul.

A sua eleição surpreendeu o mundo, e o próprio reconheceu essa surpresa ao afirmar, na primeira missa do pontificado, que os cardeais foram buscar um Papa “ao fim do mundo”.

Um pontificado marcado pela abertura e pela ação social

Desde o início, Francisco procurou retomar o espírito de abertura e diálogo proposto pelo Concílio Vaticano II. Destacou-se pela simplicidade de vida – optando por residir na Casa de Santa Marta em vez do Palácio Apostólico – e por um discurso frontal contra a desigualdade, a ganância e os abusos dentro da própria Igreja.

Durante o seu pontificado, promoveu reformas na Cúria Romana, fundindo serviços e permitindo o acesso de leigos e mulheres a cargos de responsabilidade.

A sua ação foi igualmente marcada pela denúncia firme dos abusos sexuais cometidos por membros do clero, criando novas estruturas de fiscalização, reconhecendo falhas institucionais e assumindo indemnizações. Em 2019, convocou uma histórica cimeira sobre o tema no Vaticano, afirmando: “Nenhum abuso deve jamais ser encoberto ou subestimado”.

Encíclicas, pandemias e conflitos: um Papa do nosso tempo

Francisco publicou quatro encíclicas com impacto global. Em “Laudato Si” (2015), apelou a uma revolução ecológica e social, propondo que os países mais ricos abracem um crescimento mais moderado em prol do desenvolvimento global.

Em “Fratelli Tutti” (2020), criticou os nacionalismos, o racismo e os populismos, apelando a uma maior fraternidade humana. Na sua última encíclica, “Dilexit nos” (2024), focou-se no amor divino e humano, marcando simbolicamente o início do Ano Santo de 2025.

Ao longo do seu pontificado, Francisco enfrentou a pandemia de COVID-19, guerras como a da Ucrânia, tensões no Médio Oriente e uma crescente polarização dentro da Igreja, muitas vezes alimentada por setores conservadores.

Diálogo com os excluídos e denúncias internas

Francisco ficará também na memória por ter promovido uma Igreja inclusiva. Apoiou a integração de pessoas divorciadas, homossexuais e transexuais, afirmando que “todos são filhos de Deus”. A sua posição valeu-lhe críticas, mas também reconhecimento como uma voz progressista num contexto eclesial muitas vezes resistente à mudança.

A propósito da polémica em torno das bênçãos a fiéis em “situações irregulares”, o Papa explicou: “Abençoam-se as pessoas, não as relações”. Relembrou que a Igreja não deve excluir, mas acolher.

O legado de um reformador

Francisco nunca escondeu que via o seu papel como transitório: “Eu sou apenas um passo”, escreveu na sua autobiografia “Esperança”, publicada em 2024. No mesmo livro, defendeu a necessidade de “amadurecimento do papado” e de uma Igreja mais próxima do modelo vivido no primeiro milénio.

Apesar da resistência de setores conservadores e da contínua comparação com o seu antecessor, Bento XVI, Francisco afirmou que nunca esteve sozinho nas decisões e alertou para a hipocrisia de quem se escandaliza mais com a bênção a um homossexual do que com a exploração laboral ou a destruição ambiental.

Uma nova era no Vaticano

Com a morte do Papa Francisco, inicia-se agora o período de Sé Vacante, durante o qual os cardeais se reunirão em conclave para eleger o próximo pontífice.

A Igreja Católica perde uma figura carismática, reformadora e profundamente humana. O mundo despede-se de um Papa que, vindo “do fim do mundo”, deixou marcas profundas numa instituição com mais de dois milénios de história.