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Marco de Canaveses
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Fernando Barbosa: “Onde me sinto bem é no Marco. Tudo o que se fala sobre o concelho mexe comigo”

“Não vivo há 55 anos no Marco, mas o amor à terra permanece. É em Maureles que me sinto em casa”.

Redação

Ainda na infância, Fernando Barbosa percebeu o seu “jeito para jogar com as palavras e fazer rimas”, um gosto partilhado também pela família. Já com 15 anos, numa época em que se faziam uns teatros chamados “Récitas”, na localidade de Maureles, o jovem escritor foi convidado para fazer os textos satíricos.

“Há 65 anos onde é que havia livros, televisão, telefone, mas alguém tinha de escrever os textos”. O tempo continuou a passar e Fernando Barbosa não se voltou a debruçar sobre o seu jeito para a escrita. Muitos anos depois, o aposentamento de uma colega de trabalho levou-o a recorrer novamente à escrita. “Era uma verdadeira senhora. Na altura estava numa filial e no dia da despedida não tinha nada para lhe oferecer, naquela altura não havia nada, hoje vamos a um shopping e temos tudo, mas antes era difícil. Fiquei constrangido e decidi ir à reprografia, trouxe algumas folhas e em cerca de dez minutos fiz umas 20 ou 30 quadras a rimar sobre a vida dela, porque conhecia bem a ela e à família”.

No momento da despedida, o marcoense entregou a prenda e, pouco depois, viu as lágrimas a correr pelo rosto. “Ela abraçou-me e disse: ‘foi a melhor lembrança que me deram’", recorda. Mais uma vez, Fernando Barbosa notou “admiração” no rosto das pessoas, mas como se diz em bom português, a escrita ficou ‘em águas de bacalhau’.

Fernando Barbosa foi também o responsável por fundar o Rancho Folclórico de Santa Maria de Maureles, atitude que o levou a fazer recolha das vivências do quotidiano das pessoas: “colhi as tradições todas da freguesia”. Com o aproximar de 2009, altura em que o rancho celebrava as bodas de ouro, a comunidade começou a pensar numa forma de assinalar este marco e foi assim que surgiu a primeira edição do livro.

“Tinha várias monografias escritas, mas aquilo era para mim e para no dia em partisse aquilo ficasse para o grupo”. No entanto, a obra sobre o rancho acabou por ser publicada. “Esgotou e nunca mais mandamos reeditar. Foi uma festa muito bonita”. A partir daí, continuou a escrever sobre cultura popular, mas apenas para consumo interno. Em 2022, por iniciativa do rancho, a escrita do maurelense ganhou vida com a publicação da primeira edição, no âmbito da inauguração da nova sede social do Centro Cultural e Recreativo de Maureles. “Na altura, a câmara municipal esteve presente e percebi que aquilo poderia ter interesse municipal”.

Recentemente, foi convidado a ceder os direitos para reeditarem o livro, o que resultou na apresentação da segunda edição, no dia 21 de dezembro de 2024. “Tem outra roupagem, está mais atraente. Este é um livro histórico, demorou muito tempo a fazer e foi necessária muita pesquisa em bibliotecas e arquivos. Ficou retratada a freguesia”, partilha.

Embora tenha sempre mantido o interesse pela terra, o autor da obra confessa que já não mora em Maureles há 55 anos, mas que faz questão de visitar o Marco de Canaveses e a terra a quem continua a chamar de “casa” com muita frequência. Formado em Antropologia Cultural, Fernando Barbosa dedicou-se a trabalhar nos serviços de uma faculdade e a escrita para o público não foi uma prioridade, apesar da vida o ter encaminhado algumas vezes. Com esta publicação sentiu, sobretudo, “orgulho”, já que o amor à terra permaneceu sempre dentro de si.

“Onde me sinto bem é no Marco. Tudo o que se fala sobre o concelho mexe comigo”, revela. Agora, aos 80 anos, as prioridades são outras e, quiçá, a escrita seja o hobbie primordial do escritor... aliás, o mesmo já prometeu um livro sobre os moinhos, desvendando que: “os meus pais eram moleiros e eu estive nos Moinhos até aos meus 20 anos, por isso, domino aquela arte”.

Para terminar, o autor do livro deixou um agradecimento à comunidade e ao município: “agradeço à senhora presidente e à câmara por se terem lembrado de reeditar o livro. Caiu muito bem na associação e na freguesias, aliás em nome do povo da terra quero agradecer por esta iniciativa”.