Todas as semanas, por volta das sete da manhã, a mulher de 60 anos, natural de Alpendorada, dedica-se à limpeza minuciosa de todos os cantos do cemitério, uma tarefa que desempenha com rigor e dedicação há já dez anos.
“Precisava de ganhar algum e, como ainda não tinha um trabalho fixo, fui à junta perguntar se não tinham trabalho para mim. Na maré não precisavam, mas depois lembraram-se de mim para fazer a limpeza do cemitério”, recordou. Assim, como trabalhar junto das campas e sepulturas nunca lhe fez “nenhuma confusão”, Maria do Carmo aceitou a proposta da junta e, atualmente, pelas palavras da própria: “Ando aqui como se nada fosse, não tenho medo de nada”.
Limpar o cemitério “dá trabalho, umas vezes mais, outras vezes menos”, mas, em média, no espaço de duas horas, Maria do Carmo consegue estar despachada para depois seguir com o resto do dia no seu trabalho como costureira. Acordar mais cedo para conseguir fazer dois trabalhos pode parecer cansativo, mas a costureira garante: “Não, nunca me cansei. Para ganhar é preciso trabalhar, e tanto vale este trabalho como outro, por isso vou continuar a fazer este enquanto puder”.
Pouco a pouco, com vassoura e mangueira, Maria do Carmo mantém o cemitério em bom estado, um esforço reconhecido e valorizado por muitos habitantes. “Muitos me disseram que, antes de eu vir para aqui, o cemitério estava um bocadinho abandonado, e agora comentam que só ficou em condições depois de eu começar a limpar”, conta.
Na verdade, o cemitério nunca esteve ao abandono, mas, como cada família só cuida da sua própria campa, ainda havia muito para limpar. Por isso, o trabalho de Maria do Carmo é tão apreciado: “É importante que haja alguém que dedique um pouco do seu tempo a cuidar de um espaço que é de todos”.
Em breve, no Dia de Todos os Santos, o cemitério voltará a receber centenas de famílias que cumprem a tradição de homenagear os entes queridos. “Aqui em Alpendorada sei que, no feriado, vem muita gente visitar o cemitério”, explica.
Maria do Carmo também cumpre a tradição e visita o cemitério todos os anos para prestar homenagem aos seus familiares, num dia em que o espaço ganha uma energia diferente. “No feriado, chegamos e vemos tudo muito mais arranjadinho; o ambiente é diferente. É um dia de tristeza, mas, ao mesmo tempo, estamos todos juntos pelo mesmo motivo e sentimo-nos mais unidos”, concluiu.
