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Lousada
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Dia da Mãe: Filhos que se tornam cuidadores

As mães cuidam e protegem com amor e ternura, mas também precisam de ser cuidadas. Neste Dia da Mãe, contamos a história de um filho que inverteu os papéis e passou a cuidar da sua. Vítor Carvalho, de 47 anos, é o mais novo dos 13 irmãos e é cuidador informal da mãe, Ana de Jesus Vieira, há mais de um ano.

Redação

“Sempre soube que este papel seria meu e ela também sabia que, no momento que fosse necessário, eu estaria ao pé dela, pois era isto que ela queria”, partilhou, reconhecendo que já deveria ter assumido a função há mais tempo.

Isto porque Vítor vivia em Vila Nova de Gaia e quando visitava a mãe, em Caíde de Rei, Lousada, saía de lá com o coração apertadinho, com a sensação de que a mãe, agora com 93 anos de idade, “precisava de mais companhia”. “Confesso que, na altura, aquando das viagens de regresso a casa, eu já não ia bem, já me estava a custar e a ficar emocionalmente incomodado com a situação”, desabafou.

Apesar de contar com a presença dos restantes filhos por perto, que lhe davam assistência sempre que necessário, e de ter sido autónoma até aos 92 anos, foi após um internamento da matriarca da família que perceberam que Ana de Jesus Vieira não podia continuar sozinha.

Assim, em fevereiro de 2024, Vítor tomou a decisão de “vir para o pé” da mãe, já que era esse o desejo dela. “Até porque, a minha vida, comparativamente aos meus irmãos, me permitia tomar esse tipo de resolução”, disse, reforçando, ainda assim, a importância de toda a ajuda e apoio que a restante família lhe presta diariamente nas funções.

Mesmo assim, reconheceu, esta situação é mais cómoda e confortável para a mãe, pois possibilita-lhe estar em casa, sem ter que fazer muitas deslocações para a casa dos filhos.

Vítor, podemos dizer que vai ser o filho preferido? Questionado, em tom de brincadeira, respondeu: “Não gosto de dizer que sou o preferido, mas, pelo menos, serei o que a minha mãe sente um bocadinho mais de confiança”. “Somos todos diferentes, mas acho que a minha mãe é uma felizarda, pois todos os filhos são muito amigos dela e tudo fazem para que nada lhe falte”, revelou.

Ser filho e cuidador: um desafio diário

“O mais difícil é quando não a vejo bem. Percebi que ser cuidador informal é, em primeiro lugar, uma tarefa que não é fácil, muito mais exigente do que imaginava”, considerou, mencionando os cuidados que tem com a progenitora. “Todos os dias a peso e tenho sempre receio de que esteja a fazer retenção de líquidos, motivo que até já a levou a internamento”, exemplificou.

O medo, esse, é constante. “O meu maior medo é que ela adoeça, porque se ela estiver bem, eu estou bem também”, destacou.

Mas, mesmo com todas as preocupações, Vítor assumiu: “Quando há amor, que é o essencial, e quando é uma decisão consciente… Ao mesmo tempo, não foi difícil de tomar, pois, sei que foi a acertada, a que eu queria e a que a minha mãe também queria”.

“Sempre prometi à minha mãe, com quem sempre tive uma relação muito próxima, que, no momento em que fosse necessário, eu teria essa iniciativa de vir para o pé dela”, congratulou-se. 

Este cuidador aproveitou, ainda, a ocasião para destacar que a ajuda a quem presta esta assistência deveria ser feita de outra forma. “Falo por mim e penso que pelos outros. Para além de ser muito exigente, considero que se não tiverem nenhum tipo de suporte familiar, acabam por, ao fim de algum tempo, ficar também doentes. Algo que pode perfeitamente acontecer, por noites sem dormir, bem como pelo desgaste”, elencou.

A força de uma mãe guerreira

“As pessoas costumam dizer que as mães são guerreiras, mas considero a minha mãe, de facto, uma guerreira”, garantiu, explicando que “foi uma menina que passou muita fome”. “Viveu noutro tempo, casou muito nova, uma mulher que trabalhou imenso para os filhos, portanto, só pode ser uma guerreira”, constatou.

De forma orgulhosa, tal qual uma mãe fala de um filho, Vítor realçou as façanhas da mãe. “É uma mulher com muita força. Aliás, há um ano e meio ela passava os dias inteiros no quintal, algo que não sei como conseguia, vá, nem eu nem quase ninguém”, destacou. “Não conheço muita gente como ela, acho que merece nesta fase que precisa mais, acima de tudo, de todo o amor e carinho dos filhos e das pessoas que a rodeiam”, acrescentou.

Ana de Jesus Vieira, que na altura não teve oportunidade de aprender nem a ler nem a escrever, foi para a escola aos 56 anos porque tinha um sonho, saber assinar o próprio nome. 

“É uma mulher dinâmica, querida por todos, que sempre se interessou por tudo, esteve ligada ao rancho, ao Cais de Caíde e fazia teatro, mesmo sem saber ler nem escrever”, disse, satisfeito. “Há, inclusive, muita gente lá na aldeia que a trata por avó e não tem qualquer ligação”, completou.

O Dia da Mãe: todas as horas

“Para mim, são todas as horas, porque eu estou sempre presente com ela e quando não estou é uma preocupação constante”, confidenciou. “Considero que a preocupação que tenho hoje com a minha mãe deve ser muito parecida com uma mãe quando tem um filho pequeno”, comparou, dizendo que, em parte, a ideia de confiá-la a outros é difícil. “Conheço todas as reações dela e não precisa de me pedir. Sinto sempre que sei o que ela gosta, assim como o que quer”, concluiu.

O lado da mãe…

Ana de Jesus Vieira teve 16 filhos, mas o destino ditou que dois deles falecessem ainda muito pequeninos. Atualmente, depois da perda de um já em fase adulta, tem 13 filhos consigo.


“Para quem tiver a mãe viva, é um dia importante e bonito, mas, para quem já não a tiver, é um dia triste”
, considerou, dizendo que gosta imenso e fica contente que os filhos a venham visitar nesta data, pois, “é um dia que deve sempre ser celebrado”. “Eles ficam contentes por terem a mãe viva e eu também por podermos celebrar este dia, por estarmos todos juntos e bem”, acrescentou.