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Sociedade
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IA e cibercrime: Polícia Judiciária alerta para riscos na partilha de dados pessoais

Inspetor-chefe Luís Afonso avisa que “uma vez colocada, a informação pode ficar para sempre” nos sistemas de inteligência artificial.

Redação

crescente utilização de sistemas de inteligência artificial (IA) está a levantar sérias preocupações no seio das autoridades policiais, nomeadamente no que toca à segurança da informação pessoal. Em entrevista à agência Lusa, o inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ), Luís Afonso, responsável pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3T), deixou um alerta claro: “É preciso ter muito cuidado com a informação que se partilha com sistemas de IA”.

Informação sensível pode permanecer online “para sempre”

Segundo o inspetor-chefe, muitos utilizadores estão a recorrer à IA para tarefas que envolvem dados pessoais altamente sensíveis, como extratos bancários ou registos médicos, sem estarem conscientes das implicações. “Depois de pormos um dado num assistente de inteligência artificial, não sabemos o que fazem com ele”, afirmou, acrescentando que “pode lá ficar para sempre”.

Apesar do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) proteger a informação dentro do espaço europeu, Luís Afonso lembra que as regras variam consoante a jurisdição. “Se estivermos a colocar dados num país potencialmente hostil, como a China, os riscos são ainda maiores”, frisou, alertando para a falta de transparência nestas plataformas.

PJ reforça aposta na tecnologia e na formação

A Polícia Judiciária está, segundo o responsável, a realizar um “fortíssimo investimento” na área da inteligência artificial, quer ao nível da formação de equipas, quer na aquisição de novas ferramentas tecnológicas. Embora sem adiantar números, garante que a Direção Nacional e o Ministério da Justiça estão empenhados em não deixar a PJ “ficar atrás dos criminosos”.

Afonso sublinha que a IA representa um terreno de disputa constante, já que está disponível tanto para as forças de segurança como para os criminosos. “Estamos perante uma corrida entre a criatividade criminal e a nossa capacidade de antecipação”, diz, salientando que a PJ está a preparar-se para responder com eficácia.

Deepfakes e pornografia infantil: novos desafios à investigação

Um dos domínios mais preocupantes prende-se com a proliferação de conteúdos falsificados com recurso a IA, como as chamadas deepfakes. Luís Afonso reconhece que estas tecnologias já permitem a criação de vídeos “com qualidade extraordinária”, sendo necessário desenvolver sistemas capazes de identificar as manipulações.

No que toca à pornografia infantil, o uso de IA poderá dificultar seriamente os processos de rastreamento. “Com ferramentas simples, acessíveis a qualquer pessoa, a IA pode comprometer metodologias de investigação que até agora apresentavam taxas de sucesso superiores a 90%”, lamenta o inspetor-chefe.

Sociedade deve investir em literacia digital e proteção de dados

A entrevista deixa claro que os desafios impostos pela inteligência artificial não são exclusivos das forças de segurança. Luís Afonso considera que “toda a sociedade” deve investir em formação e na utilização consciente destas ferramentas, especialmente no que respeita à proteção de dados.